Havia uma alma que deixava os cabelos para trás. A ponta do vestido eternamente para trás. Caminhava para um oceano sem horizonte. Ela era a praia e consumiu-o. Mais atrás, um coração apalpava-se. Verificava se batia. Aumentara de tamanho. Ou então foi a mão dele que diminuiu. A palma suada amiúde, amiudava-se. O coração palpitava turbulento, epicentro de tremores que racham superfícies, refazem planícies, montanham-nas. Ela já era praia e oceano, mas deixou os cabelos para trás. O cheiro da lavanda da saudade. Só o passado, pensou ele, só o passado é verdade. Que futuro pode ser depois do fim? Como desinflamar o coração do tumor do temor? Das respirações solavancadas? Das lombas da existência?
Havia uma alma que passou por ele, ficou e foi. Ao ir, nunca indo, deixou os cabelos para trás. O vestido fez-se praia, fez-se oceano, fez-se horizonte. Levou o horizonte consigo. Tornou-se o limite do olhar, o limite do fôlego. O coração apalpava-se, sem certezas se batia. Massaja o músculo cardíaco, mas a mão não o preenche. Ele espera pelo tempo, mas o tempo segreda-lhe que está atrasado. Que só volta na próxima eternidade. Donde chegam estas lágrimas? Esta árvore que me ampara como o colo materno? Que as gotas que escorrem a alimentem para criarem um novo horizonte. Longe do passado, sem nunca o esquecer.
Escrito por mim, André Pereira dos Santos, baseado na pintura "Separação" de Edvard Munch
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