Somos o lago transformado Pântano. Aqui as águas não se movem. Mestres do aprisionamento do qual somos juízes e réus. Ser Terra e ansiar céus, desejando um plano que não nos pertence. O que nos pertence afinal? O lago do enganado que retém a água contra a sua vontade. Apodrece a pureza dos pensamentos, os peixes de escamas esbeltas asfixiam na poluição que se acumula. Não há um fim da linha, alinho toxinas que se aninham. Que sejam as linhas que por aqui descrevo. Antes que o meu coração seja lama de uma lágrima que não se derrama, uma palavra nunca dita presa afiada na garganta, maldita, a bola histérica que nunca encesta. De segunda a sexta talvez consiga. O sábado duvida, mas fodidos são os domingos. Antes de tudo e depois de tudo. Movediça-se a lama da melancolia e as mãos subterrâneas da vontade não nos deixam filtrar as águas. Não nos deixemos ser movediços. Que se evaporem as certezas, quem precisa do que não existe? Que se abrace a beleza das chuvas ambíguas que purificam e as lágrimas que clarificam qualquer depressão de água.
Somos o lago, enganados a ser Pântano. O Pântano exige negação. O Pântano alimenta-se de sinas. Deseja-nos só para ele, imutáveis. Águas paradas. Todavia, águas saudáveis fluem, nascem e desaguam. E aqui desaguam as minhas águas, para que outras nasçam, a montante, mais claras e cristalinas.
O Pântano morre à fome quando a sina se torna nossa.
Escrito por mim, André Pereira dos Santos
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