domingo, 14 de novembro de 2021

Respiro Fundo e (Re)Começo

    

    Respiro fundo e começo. Quantos textos já comecei assim? Para verem as vezes que precisei de respirar fundo e começar, e de me lembrar que tenho de voltar a fazê-lo. Respira fundo e começa. Depois, não se nota que começaste. É tudo um sonho contíguo. A vida anseia ser sonho e teme ser pesadelo. Está tudo em nós, é isso que assusta. Sou um anunciador da continuidade, o guarda da ponte que deixa tudo passar. Quanto menos cancelas, melhor. É polémico, eu sei. Há coisas que se devem deixar enterradas, no seu lugar de desexistência que existe. Eu sei, sei e concordo. Contudo, visita o seu jazigo, entende o porquê do seu epitáfio. O que dorme, selado, e o que deve ficar a dormir. Deixam-se flores e está-se melhor assim. 

    Respiro fundo, inoculo a minha imperfeição. Respira-se melhor quando se aceita, como água do mar ou óleo de eucalipto. Insisto nos dias cinzentos, a carregar na cinza, invés de a disfarçar com cores alegres. Que seria do meu sorriso sem a sua tristeza? Um fruto sem sumo, do livro, um resumo, um tudo que se parcializa. E somos mais que a soma das partes, somos a cola que mal as fixa juntas. 

    O amanhã raramente traz garantias com nexo, somos narrativas que se acrescentam, enredos de medos, de meios e processos. Fecho os olhos para ver se abraço o vazio e de mim me esqueço. E aí, respiro fundo e começo.


Escrito por mim, André Pereira dos Santos, há uns dias, como quem regressa para recomeçar.

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