sábado, 23 de fevereiro de 2013

Inocência

Desde os vales da nossa infância, vales coloridos, cheios de fauna e flora variadas e puras, até ao cume das montanhas que circundam o vale, há uma viagem digna de se falar e de se respeitar, uma jornada dura e cheia de obstáculos que teimam em não nos deixar ver a vista que o topo dessas colinas nos permitem vislumbrar. Ao iniciarmos a demanda, essa colossal subida, somos apenas crianças sem qualquer tipo de valor moral, reagindo puramente de acordo com os nossos sentidos, do nosso egoísmo, num estado de natural sobrevivência. Ao subir deparamo-nos com várias perspectivas, começamos a entender que não estamos sós e que existe algo mais à nossa volta que não nos permite agir de acordo com o nosso sentido primitivo, então mascaramo-lo por detrás de múltiplas razões, palavras, comportamentos, roupas que, ou nos ficam demasiado largas, ou curtas demais. Reparamos que o belo Éden do vale ficou para trás e que a subida era insensível, dura, tão instável que um passo em falso far-nos-ia ir de encontro à nossa morte social, à nossa segregação, à nossa exclusão. Então deitamos fora, a nossa inocência, inconscientes que tudo o que aquele vale foi para nós seria tudo o que realmente nos restava. A jornada parece interminável, encontramos sempre alguém que nos ajude no caminho, mas também encontramos quem apenas nos quer pisar a mão, quando na realidade, precisamos da sua. O pico está próximo, cada vez mais próximo e aumenta a ansiedade. As feridas são muitas, e as aprendizagens também as foram. Já levamos experiência de escalada, já sabemos como andar na montanha. Quando chegamos e olhamos para o céu azul na distância, para as ondas brancas das nuvens, notamos que no outro lado da montanha, no ponto oposto ao vale da nossa infância, encontra-se exactamente o mesmo vale. Então, vamos ao seu encontro, livres. Sem medo do que há-de vir, nem receio do que já passou. E, assim, voltamos ao encontro da nossa inocência.

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