domingo, 13 de março de 2011

Ri!

Ri! Ri com toda a tua força,
até a respiração te custar!
Para que, a quem te veja ou ouça,
possas tu contaminar.

Ri sem limites, sem medos!
Este é o melhor analgésico.
Cura sofrimentos e enredos,
sem ajuda de revistas ou médicos.

Ri e gargalha em contornos de maluquice,
a correr, sentado ou de pé!
Porque se o mundo todo sorrisse,
então hoje seria bem melhor do que é!

Gargalho estas palavras, incansavelmente
escrevo sem saber o que o que escrevo.
A seriedade é dúbia e mentirosamente,
corrompe sociedades, cépticos e crentes.
Que riam com vontade, a dizer me atrevo!

E corajosos são aqueles,
que riem da sua própria tristeza,
da sua própria solidão.

Verdade só é verdade quando sorri.
Por isso ri, com a única certeza,
de que se não o fizeres, tudo é em vão.


André Ortega
13/03/2011

domingo, 6 de março de 2011

Paciente do Quarto Nº 7

Acordo numa manhã,
ou será tarde? Pouco importa.
No mesmo estado, longe de sã,
e ninguém a entrar pela porta...

Não passo de mais uma,
num quarto de branco infinito.
A solidão é a doença mais dura,
qual tumor, qual amargura...
O coração abranda aflito...

No quarto nº 7, sou paciente,
mas a minha paciência esgotou.
Estou apenas de corpo presente,
pois a alma aproveitou e escapou.

E ao virar a minha cabeça,
olho as nuvens pela janela,
e seja o que for que aconteça,
lembrar-se-ão de mim de certeza.
Nunca as deixei, e contento-me ao vê-las.

Sei que me querem bem,
mas não ficarei bem como queriam.
Já lhes dei nomes, até convém
tratar, quando se tem alguém,
por alcunhas, e dar-lhes o que mereciam.

Vejo que hoje estão amargas,
acinzentaram-se e choram compulsivas.
Não se preocupem amigas amadas:
A minha vida toda foi feita de nadas,
e agora por vós, acaba preenchida...


André Ortega
07/03/2011

sábado, 5 de março de 2011

Poeta é Filósofo

Poeta não é filósofo,
pois não pensa, só transmite
aquilo que absorveu
e a natureza humana omite.

Nos dias de hoje
para pensar é preciso estofo,
vida recheada e bem composta.
A sociedade até cheira a mofo
da mente supérflua e mal disposta.

Não sei se poeta é filósofo,
porque se transmitiu, foi porque pensou...
Esta própria afirmação me confirmou,
que fui eu aquele que se iludiu
na realidade ilusória que me sequestrou...

Mas sei que o meu mundo
é onde só se imagina.
Fecho os meus olhos e viajo
sem querer saber do que se aproxima.

Afinal sim, o poeta é um filósofo!
Afirmo porque realmente o sinto!

E nada mais puro que este momento:
Como sol que ilumina caminho de labirinto,
a verdade sempre se ofusca com o sentimento.


André Ortega
06/03/2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mendigo

De passagem passam seres vazios,
com a mão no bolso porque temem.
E aquilo que os faz ser tão frios,
está nessa algibeira, doentios
dedos que a si mesmos ferem.

Naquele apertar, naquele papel.
E quem sou eu nesta postura?
Deitado, ensanguentado,
a viver em passeios de sujidade...

E sempre a mim fui fiel...
Apenas nunca estive a altura
desse ar sem orgulho, pois foi vendido,
prefiro ficar no entulho, fortalecido
contra tal fútil e mediocridade...

E contempla bem o meu olhar,
pois sei que te enojo e te repugno...
Mas mais repugnante é ver que o teu nada tem.
Preenchido por nada, esse olhar é turvo,
sem amor nem vida... sem ninguém.


André Ortega
03/03/2011