(Personagem entra em cena só com um banco, vestido como um palhaço
mas com a maquilhagem borrada. Pousa o banco e senta-se nele calmamente. Depois
de uma pausa, encara o público)
Às vezes gostava que o mundo nos desse pistas…
Sei que às vezes ele acaba por fazê-lo, mas queria que o
fizesse até para pessoas como eu, menos perspicazes, conseguirem entender.
Eu tenho noção que o trilho é atribulado, que existem
obstáculos difíceis de contornar, desilusões difíceis de aceitar e lidar,
mambos que inevitavelmente nos fazem tossir sangue, numa taquicardia tão
intensa que nos faz estagnar, cambalear…
Sinto-me desequilibrado, mais do que alguma vez fui e não
num muito bom sentido: oscilo entre a depressão intensa, lembranças saudosistas
do que não posso voltar a agarrar, e o palhaço sorridente que tanta gente vê…
Esse palhaço que hoje, como há uns dias para cá, tem ficado na sua toca, no seu
circo perdido no buraco negro do meu cérebro…
Mas eu só queria uma pista, visível, que fizesse os meus
olhos brilharem, algo certo e concreto que fizesse a minha boca abrir com
espanto e dizer: É isso! Mas é tudo tão incerto, tão irremediavelmente doloroso…
O palhaço que tanto sorri, tenta que eu pouco pense, que viva no momento
presente e mais nenhum, mas a minha outra veia teima para pensar e repensar,
cada movimento, e sinto que cada vez vou-me prendendo mais. GRRRR que raiva! Que
frustração! Teimar em querer coisas da maneira que fantasio na minha utopia
irrealista e sobrenatural, onde foi toda a minha realidade?
É isso que hoje sinto: Realidade. E acho que estou a
vislumbrá-la pior do que ela realmente é… Melhor assim. Ao menos preparo-me
para o pior, talvez o melhor ganhe um novo significado…
Agora vou… já vejo o palhaço que sorri a tentar sair. Eu vou para dentro. Voltarei
em breve.
Eu volto sempre.
Escrito por mim, André Pereira dos Santos, no dia 27 de Janeiro de 2014
Escrito por mim, André Pereira dos Santos, no dia 27 de Janeiro de 2014